Hilda (Almeida Prado) Hilst estava prestes a completar
vinte e sete anos. Já publicara três livros de poesia: Presságio, Balada de Alzira
e Balada do Festival, influenciada
pela terceira fase do Modernismo que, marcada por uma preocupação maior com a
forma, fora denominada a Fase Estética. Hilda usava um vestido claro de mangas
curtas, deixando aparecer os braços finos. Os cabelos lisos e loiros estavam
presos para trás e a franja armada em um majestoso topete. Estava sendo
entrevistada pelo jornal Correio Paulistano, para uma reportagem a ser
publicada em 31 de março de 1957. Uma foto foi tirada no momento em que seus
olhos verdes e indiferentes se desviaram, pensativos, para o lado. Entre outras
perguntas, o repórter questiona:
– Poderia falar um pouco sobre sua vida e suas
preferências?
– (...) Se tivesse dinheiro, viajaria muito e teria uma
casa muito grande para ter muitos cães[1].
Nove anos depois, seu sonho seria concretizado. Primeiro,
Hilda projetou a casa em um papel: definiu como seria a disposição dos cômodos,
as janelas, os vidros, a varanda, o jardim. Tinha uma vida agitada na capital
paulista, onde promovia encontros de intelectuais e grandes festas, mas decidiu
levar seu projeto adiante. Em 1964, o país passava por um dos mais conturbados
momentos de sua história política, com o fim do período democrático e o decreto
do Ato Institucional nº 1, que consolidou o regime militar. Nessa época, Hilda
pediu três alqueires de terra da Fazenda São José, situada na estrada
Campinas-Mogi Mirim, para a proprietária, Bedecilda Vaz Cardoso, sua mãe. Morou
na sede da fazenda até 1966, quando a casa saiu dos seus planos para se tornar realidade.
Nos anos seguintes, se transformaria em um ponto de encontro de artistas e
intelectuais. Hilda a batizou de a Casa do Sol, onde mudaria o seu estilo de
vida e de escrever.
A criação
Casa do Sol – Um encontro com Hilda Hilst
é uma série de reportagens em estilo de jornalismo literário que resgata a história
da vida da escritora durante os trinta e seis anos e seis meses em que residiu
na Casa do Sol, sítio que agora faz parte do condomínio residencial Parque
Shangri-lá, em Campinas. Hilda tinha trinta e seis anos quando se mudou, e
morou lá até sua morte, em fevereiro de 2004.
Visitei o local pela primeira vez em agosto do ano
seguinte. Chegando à portaria do condomínio, olhei para a direita e vi uma
placa azul, pintada com um sol amarelo a indicar meu destino: Casa do Sol.
Percorri um estreito caminho de terra, em um terreno onde alguns pássaros davam
vôos rasantes. Desde o início, avistei um extenso muro branco e uma placa.
Chegando mais perto, pude lê-la: “Cuidado: cão feroz”. Assim que me aproximei,
vi um alto portão de grades vazadas, do lado esquerdo. Fui até ele e olhei por
entre as frestas.
À minha frente, uma alameda de palmeiras inquietas pelo
vento conduziu minha vista até uma casa cor-de-rosa, na qual pude reparar.
Minha atenção foi desviada depois que as primeiras palmas que bati se
interromperam por uma corrida galopante que vinha em minha direção: quinze cães
dos mais variados tamanhos, cores e misturas de raças. Quando o portão foi
aberto, uns pularam em mim, outros latiam apreensivos, mas sem se enfurecerem.
Agradei suas cabeças e continuei o carinho enquanto entrevistava José Luis Mora
Fuentes, amigo e herdeiro de Hilda, já no interior da Casa. Alguns cães se
acomodaram embaixo da mesa da sala de jantar, onde estávamos sentados, enquanto
outros rosnavam entre si e por vezes se atracavam, interrompendo a entrevista.
Percebi que o local era realmente escuro e o Sol entrava tímido pelas altas
janelas. A meia-luz proporcionava uma imersão mais profunda nos pensamentos, e
conseqüentemente, no passado que era resgatado naquele momento.
A Casa do Sol foi construída a partir das indicações da
proprietária, Hilda Hilst, que planejava constituir um lugar que proporcionasse
aos visitantes e moradores um encontro eficaz. Todos os cômodos possuem uma
iluminação suave e convergem para um pátio interno a céu aberto, cercado de
arcos. O terreno escolhido para a construção possui uma figueira centenária,
embaixo de cuja sombra foram construídas quatro cadeiras de pedras e uma mesa.
A figueira, o pátio interno e os cômodos de iluminação dúbia foram cenários de
encontros e desencontros entre Hilda e amigos, artistas, paixões, curiosos,
empregados e cachorros, que chegaram compor uma matilha de noventa e cinco
membros. Também foi palco da tentativa de Hilda de se comunicar com o plano
espiritual por meio de experimentos com ondas radiofônicas e da produção de
trinta e quatro livros de sua autoria. Um dos objetivos desta reportagem é narrar o
contexto em que suas obras foram escritas, resultando em outro encontro que
Hilda buscava para si, o encontro com o leitor, por meio dos seus textos em
poesia, ficção e dramaturgia. A reportagem mostra
parte de sua trajetória literária e a sua busca pelo reconhecimento do público.
Apesar de considerada pelo crítico Léo Gilson Ribeiro a dona da “mais abissal e
deslumbrante prosa poética do Brasil, posterior à genialidade de Guimarães
Rosa”[2],
Hilda carregou o estigma da impopularidade, algo que a incomodava muito: as
edições de seus livros não passavam de três mil exemplares.
O primeiro fragmento de sua autoria que li foi uma frase de
Com os meus olhos de cão e outras novelas,
a qual considerei intrigante: “Dentes guardados. Não acabam nunca se guardados.
Na boca, apodrecem”. Considerada polêmica devido à linguagem inovadora de sua
obra e sua própria espontaneidade, tanto Hilda quanto seu trabalho remexem
tabus e põem em cheque questões perturbadoras ligadas ao existencialismo, como
a morte, Deus e sexo.
Senti-me instigada a escrever sobre sua vida quando
descobri a inquietação que a sua obra transmitia, fazendo-me por vezes fechar o
livro e me negar a continuar a leitura. Como Hilda diria : “Assustou-se,
leitor? Machucou-se, leitor? (Coitado!)”[3]
Procurei mais informações sobre sua personalidade em seu
site pessoal e me senti realmente motivada a seguir adiante quando li diversas
entrevistas com a autora, cedidas gentilmente por Cristiane Grando, pesquisadora
de sua obra. A partir de então, comecei a conhecer um pouco de Hilda Hilst,
mulher complexa, que desperta curiosidade. Tive a certeza de que o leitor
sentiria prazer em se projetar na história de sua vida e da Casa do Sol.
Considerei que seria um grande desafio atingir esse objetivo, já que “o ato de
biografar é um ato iluminador e muitas vezes espiritual, em que um ser humano
faz ressuscitar outro da poeira do passado”[4].
Para melhor compreender o universo hilstiano, foram
realizadas leituras de livros que fazem parte da sua biblioteca particular,
como A negação da morte, de Ernest
Becker, A metamorfose, de Franz Kafka, e alguns de sua
autoria, como A Obscena Senhora D, Ficções,
Contos D’Escárnio/ Textos grotescos, Carta de um sedutor,
Estar sendo. Ter sido.,
Cantares de Perda e Predileção, Cascos e Carícias, além de fragmentos de outros títulos,
encontrados no site oficial da escritora. Hilda também procurava conhecer a
vida por meio da leitura daqueles que buscavam um sentido desesperado para tudo,
como os santos e os escritores. Por isso, tentei compreender um pouco de dois
dos seus pensadores preferidos, Ludwig Wittgenstein e Sören Kierkgaad. Porém,
para compreender totalmente Hilda Hilst, como a própria dizia, “é preciso fazer
um curso de física quântica”.
Existem outros trabalhos de conteúdo biográfico sobre a
escritora como um livro ainda não concluído por Ana Lúcia Vasconcelos, os
vídeos-documentários Hilda Hilst para
virgens e Hilda Humana Hilst e a
edição número 8 dos Cadernos de Literatura
Brasileira. Esta reportagem se difere deles pelo recorte: a vida dela na Casa do
Sol e os encontros que lá aconteceram. O resgate da história desde os primeiros
passos dentro da Casa até o falecimento da escritora ainda não foi publicado em
outro meio de comunicação. O acesso aos arquivos do Centro de Documentação
Cultural Alexandre Eulálio, CEDAE, da Unicamp, também contribuiu para o
levantamento de informações inéditas, obtidas por meio do material disponível
no Arquivo Hilda Hilst, do qual examinei como fontes primárias 22 agendas, 11
cadernos, 100 artigos de revistas e jornais, 16 cartas de leitores, 200 cartas
de amigos e parentes e 140 fotografias.
Além de revelarem informações, as cartas auxiliaram na
descoberta do modo com que os amigos se dirigiam a ela e seus respectivos graus
de intimidade. Deve-se levar em conta que “o remetente exprime a sua visão de
mundo, sua auto-imagem, pelo menos o que ele gostaria de ter sido”[5],
fato que também foi lembrado ao examinar as agendas e cadernos da escritora. Ali,
em seus escritos pessoais, esperava encontrar uma linguagem difícil e cheia de
metáforas, como a dos seus textos. Todavia, para minha surpresa, percebi uma
mulher que se referia à sua vida com simplicidade. Encontrei uma Hilda que
escrevia sobre si de forma objetiva e se referia a Deus com amor, ao amor com
romantismo e ao sexo com delicadeza. Conheci os seus maiores desejos e
inquietações, o que me ajudou a escolher os temas mais importantes para essa reportagem.
Os assuntos predominantes em seus diários eram as
preocupações financeiras, as experiências paranormais, os sonhos e o medo da
morte. Sentia-se inquieta frente ao mistério da morte e buscava provar a
imortalidade da alma. Anotava também suas intuições e o desejo de produzir
textos que se diferenciassem dos de outros autores. Não queria e se esforçava
para que nada a impedisse de escrever, escrever muito, ato que oferecia ao pai,
Apolônio Hilst, fazendeiro e intelectual jauense que ficou esquizofrênico aos
trinta e cinco anos. Apolônio teve forte influência na vida de Hilda, mesmo com
os raros contatos que tiveram.
Entretanto, “o fato precisa ser friccionado na mente,
colocado em justaposição magnética com outros fatos, até que comece a brilhar,
a emitir aquela radiação que denominamos significado”[6].
Desse modo, para obter mais informações e melhor reconstituição e entendimento
do material obtido por meio dos documentos disponíveis no arquivo Hilda Hilst,
foram realizadas entrevistas, que, por sua vez, “podem revelar a verdade que
existe por trás do registro oficial”[7].
Escolhi como fontes secundárias as pessoas que conviveram por mais tempo com a
escritora e tiveram presença em fatos marcantes de sua vida, sobretudo aqueles
referentes a sua estada na Casa do Sol. Foram entrevistados os amigos José Luis
Mora Fuentes, Inês Parada, Olga Bilenky, Daniel Mora Fuentes Bilenky, Ana Lúcia
Vasconcelos, Iara S. Casarini, J. Toledo, Jurandy Valença, Egas Francisco, o
caseiro Francisco das Chagas Silva e o ex-marido Dante Casarini. Como o local
da entrevista influencia no tipo da resposta e a proposta deste trabalho é
resgatar o ambiente que caracterizava o lar em que os entrevistados foram
recebidos ou moraram e o modo em que Hilda se comportava ali, palco de
vivências de todos, procurei entrevistá-los na Casa do Sol ou em suas próprias
residências.
Algumas fontes importantes para o resgate dessa história
não puderam ou se negaram a dar entrevista, como Lygia Fagundes Telles, Yuri
Santos, Léo Gilson Ribeiro e Edson Costa Duarte. As informações referentes a
essas fontes foram obtidas das outras entrevistas e da leitura de depoimentos
anteriores sobre o mesmo tema que as mesmas cederam a outros veículos de
comunicação.
Os amigos e os amores da escritora que pude entrevistar não
sentiam saudades apenas dela, mas deles mesmos quando estavam em sua presença.
Ela os reconhecia em sua plenitude, sem traumas e preconceitos. Logo depois de
sua morte, sua amiga Inês Parada comentou: “Nunca ninguém vai nos perceber em
nossa totalidade como fomos percebidos pela Hilda”. Para ela, a vida estava no
outro e o buscava em sua perplexidade. Por isso, o seu convívio e aquilo que
ela despertava no próximo se tornaram relevantes para a compreensão de sua
personalidade.
O tempo todo perguntante, a curiosidade de Hilda originava
sentimentos viscerais de amor e ódio profundos, como o que sentiu seu primo
Wilson Hilst, com o qual teve um romance tumultuoso, relatado nesta reportagem. Para
contar essa e todas as histórias sobre a vida de Hilda Hilst e da Casa do Sol,
foram usadas técnicas de Jornalismo Literário, que trazem maior sabor ao texto.
As principais delas são: construção de cena, diálogos, alternância de foco
narrativo e reconstituição minuciosa aliadas ao ritmo, cadência e pulsar
característico que se altera de vez em quando para evitar a dispersão do
leitor, assim como na ficção.[8]
Contudo, Jornalismo Literário não é ficção. Chamado também de Literatura de
Não-Ficção, Creative Nonfiction ou
Literatura da Realidade, ele exige, antes de tudo, rigor na apuração das
informações transmitidas ao leitor, seja referentes à descrição de uma
personagem, seja ao relato de um fato: o jornalista deve ter o compromisso de
buscar a verdade daquele recorte da realidade sobre o qual se propôs a
escrever. Para a produção desta reportagem houve, naturalmente, conflitos de
informações que precisaram ser confrontadas, estudadas e pesquisadas para que
se conseguisse uma versão que acredito ser a mais próxima do real. Para isso,
procedeu-se uma checagem a partir da documentação dos dados coletados e do
recurso à gravação das entrevistas em seis microcassetes.
Para conseguir a
imersão de forma mais profunda, fiz uma segunda visita à Casa do Sol, dessa vez
para passar a noite. Fui recebida por todos os cães novamente, mas senti falta
de uma: a pincher Aninha, a
mais querida de Hilda. Assim que perguntei por ela, ouvi um latido agudo e alto
sobressaindo-se entre os outros: Aninha despontou de trás de uma das palmeiras
latindo de modo intimidador. Mora Fuentes satirizou: “Ela estava na tocaia”.
Naquele dia, pude perceber de forma mais intensa o ambiente de trabalho e
convívio de Hilda Hilst, porque já havia realizado a maioria das entrevistas
necessárias e também grande parte da pesquisa. Pude imaginar todos os
acontecimentos ali vividos que colhi por meio dos relatos e sentir a aura que
os envolvia, o que me possibilitou ousar a escrever alguns trechos de forma
poética sem, contudo, precisar jogar com as palavras em outras passagens,
quando os fatos e a própria Casa adquirem, por si sós, um simbolismo especial.
O resultado
A produção de Casa do
Sol – Um encontro com Hilda Hilst não foi norteada por uma classificação, a
fim de trazer liberdade ao tema e desenvolver a história com fluência natural e
sem amarras. Por isso, a reportagem também resgatar histórias do passado e da carreira da escritora, e cria o retrato da Casa do Sol e da escritora sem o uso de estereótipos,
mas sim a busca pela compreensão da personagem em sua individualidade e seu
mundo, demonstrando o seu lado humano, seu dia-a-dia, seus relacionamentos e
pensamentos mais íntimos.
Procuro retratar uma mulher de carne e osso, com
fragilidades e defeitos inerentes a todo ser humano. A própria Hilda se
incomodava com a mitificação que se fazia em torno de sua personalidade e dizia
aos amigos que sentia medo de tantas pessoas quererem conhecê-la, “porque tem
muita gente parva” [11],
e ela não escondia as suas angústias.
“(...)
Aí o escritor, que se pensava amado, fica íntimo daqueles que amavam o texto
dele, e então só faltam cuspir nele quando ele se descabela, bebe, chora,
arrota, quando ele se mostra derrotado diante das grandes perguntas, perplexo
diante do mistério da vida e da morte, diante da maldade, do simiesco fútil da
maior parte da humanidade”.[12]
O seu modo de falar e escrever
possuía uma clareza assustadora, característica que trazia incômodo para uns e
surpresa para outros. A doçura e a acidez saíam dela de forma natural e
espontânea.
“Outro dia veio uma moça aqui que não suportava ouvir a
palavra boceta. Ela se sentia incomodada auditivamente. Eu fiquei tão indignada
que fiquei falando boceta o tempo todo. Ela tampou os ouvidos e foi embora”.[13]
Essa espontaneidade foi preservada, pois o intuito dessa reportagem é transmitir as impressões que a personagem passava ao próximo,
reconstruídas por meio das entrevistas e pesquisa que realizei. Assim, o texto
também possui as características da reportagem documental (quote-story),
“cujo relato é acompanhado de citações que complementam e esclarecem o assunto
tratado”[14].
Por
extensão, a reportagem também traça o perfil da Casa do Sol, do ambiente que a
envolvia e que atua na narrativa com a presença digna de uma personagem. Muitas
das características físicas do local foram transmutadas para o texto de forma a
justificar as influências que exerciam sobre aqueles que lá estiveram e
atribuem ao lugar uma aura mística e atemporal, capaz de fazê-los viver uma realidade
diferenciada que procurei resgatar.
Os sete capítulos
Cada capítulo desta reportagem seriada tem como porta de entrada uma epígrafe de um
dos pensadores preferidos de Hilda, que a influenciaram em sua vida e trabalho,
com assuntos que fazem sentido diante do contexto do capítulo. Alguns deles
foram citados pela escritora para definir suas escolhas, como a frase seguinte,
de George Baitalle: “Sinto-me livre para fracassar”, citada em diversas
entrevistas para explicar a decisão de iniciar a fase erótica de sua obra.
Essas frases funcionam como anfitriãs do leitor para conduzi-lo ao capítulo,
instigá-lo a continuar a leitura e encontrar uma resposta, surpresa ou
frustração.
A reportagem segue a ordem cronológica referente ao período em
que Hilda morou na Casa do Sol, com memórias dos anos anteriores sobre a
infância e a juventude, necessárias para contextualizar a sua vida. Dentro
dessa cronologia, foram escolhidos temas marcantes de cada capítulo que
correspondessem à fase vivida por ela: Mudança, Encontro, Silêncio, Despedida,
Morte, Deus e Paixão. Esses três últimos também são alguns dos temas mais
recorrentes em sua obra e dos assuntos que mais lhe despertavam
questionamentos. Por isso, são conceitos que não se restringem apenas a esses
capítulos e estão constantemente presentes na narrativa. Essa divisão e a
permanência dos títulos em todas as páginas dos seus capítulos correspondentes
possui a mesma função das epígrafes: conduzir o leitor e deixar alguma coisa
“no ar” para que ele siga em busca do sentido ao longo do texto. Sozinhas,
essas palavras são carregadas de subjetividade, contraposta à busca pela
objetividade jornalística, que porém proporciona espaço para interpretações
suplementares e faz bater as asas da imaginação.
Casa do Sol – Um encontro com Hilda Hilst tem como objetivo
promover o encontro, seja no sentido do reconhecimento ou da colisão. Um
encontro que se inicia ao baterem-se os olhos na foto da capa, que retrata a
escritora em um dos corredores do pátio interno da Casa do Sol acompanhada,
como de costume, por um cachorro. Era o vira-lata Dr. Teco, que também olhou
para câmera, posicionada em ângulo por detrás da janela que, por sua vez, foi
enquadrada a partir de dois filetes de madeira que se encontram formando uma
cruz, símbolo do sagrado e da morte: dois pontos primordiais da busca incessante
de Hilda Hilst.
[1]
Correio Paulistano. São Paulo, 31 mar 1957, Suplemento Dominical.
[2] FURIA,
Maria Mendes. O calmo talento de Hilda Hilst. O Estado de S. Paulo. São
Paulo, 13 fev 1986.
[3] Hilda
Hilst, Cascos e Carícias. São Paulo: Nankin, 1994, p.24
[4] OATES, Stephen B. Biography as
history. Texas :
Marham Press Fund, 1990 p.05 apud BOAS, Sergio Vilas. Biografias e
Biógrafos. São Paulo: Summus, 2002, p.37.
[5] BOAS,
Sergio Vilas. Biografias e Biógrafos. São Paulo: Summus, 2002, p.58
[6] RENDATE, Paul Murray. Walking the
boundaries.In: Oates (org). Biography as history. Texas: Marham
Press Fund, 1990, p.40-41 apud BOAS, Sergio Vilas. Biografias e Biógrafos.
São Paulo: Summus, 2002, p. 137
[7] VILAS
BOAS, 2002, p. 59
[8] Id. , Ibid., p. 83
[9] LIMA, Edvaldo
Pereira. Páginas Ampliadas – O livro-reportagem como extensão do jornalismo
e da literatura. São Paulo: Manole, 2003, p51
[10]
DRUMMOND, Victor. Livro-reportagem não é conto-de-fadas: é jornalismo. Canal
da Imprensa. Disponível em: http://www.canaldaimprensa.com.br/canalant/cultura/trint8/cultura4.htm
[11]
ENTREVISTA com Jurandy Valença. Coletiva. PUC Campinas, 2004
[12] HILDA
Hilst. Bizzarra, não? Correio Popular, Campinas, 2 abr 1995.
[13]
PALAVRAS abaixo da cintura. Revista Interview. Abril, São Paulo, nº136, 1991
[14] LIMA,
2003, p.25